Em torno dessa ideia de que o consenso é difícil e de que simplesmente acontece

Há dias, talvez mais de trinta, uma pessoa procurou falar sobre sociocracia em contexto público e se lembra ela de outra pessoa com certa voz política dizer algo que a levou na altura a interpretar como “O consenso é díficil”.

Pois bem. andou-me tal pessoa (a primeira) a GRITAR - só para ver se era ouvida (e talvez não precisasse de o fazer e escrever é forma de preparo para não o fazer e encontrar espaços dedicados ao trabalho da raiva também - mas isso sou eu a dizer) - que o consenso só é díficil se acreditarmos que assim o é.
Para o consenso ser fácil o primeiro passo é acreditar que pode ser.
È dizer para si mesmo: O consenso há de acontecer.
Por outro lado, há que reconhecer -> Nem sempre o consenso é o melhor processo de decisão para a vida florescer, e ainda assim, mesmo sem ser conscientemente seguido, não deixa de acontecer.

Quê? Como é isso? Então não é seguido e não deixa de acontecer?

Exatamente ( vá…quasi-exatamente ), Se olharmos à escala do corpo humano, a sua mera existência resulta do consenso / consentimento de todas as suas partes e de todas as partes fora de si.

Pois porventura poder-se-á respirar se não houvesse ar?

Portanto, pegue-se novamente nessa ideia de consenso ser dificil. Rapidamente surge a história em que tal pessoa esteve mais de duas horas para tentar alcançar o consenso, para no final optar por propôr, procurando o consenso, o voto de maioria.

Efetivamente parece que foi dificil chegar-se a tal consenso. No final, pareciam cansados, conta tal pessoa. Depois dessa reunião, houve quem dissesse que se fosse assim não quereria mais continuar. Muita tensão. Tudo por causa de uma objeção. Uma objeção “díficil de integrar”.

Uma objeção que tinha que ver com a constituição de uma organização. Onde se queria alargar a possibilidade de se “ser fundador” a pessoas que não teriam tido oportunidade de comparecer à “reunião de fundação”.

Porventura tal dificuldade só o terá sido, por dificuldade de compreensão. Por bloqueio de comunicação. Por medo de repressão. Por identificação. Por apego à libertação. Por necessidade de confiar. Por necessidade de se ser amado. Tudo isso vejo, por trás da argumentação de que não poderia ser, não se poderia aceitar tal objeção.

Uns poderiam ser vistos mais à direita, outros mais à esquerda, outros ao centro e outros fora do dentro. Tudo depende da perspetiva de quem olha, não é verdade?

Efetivamente o consenso parece ter sido dificil naquele momento, e ainda assim aconteceu. A pessoa que objetou se ausentou. O voto por maioria foi escolhido por consenso e mesmo nesse processo houve quasi-consentimento.

Houve dois votos contra, uma “abstenção” e o resto tudo a favor.
Mais tarde, escrita e clarificada a proposta em voto, um dos votos contra foi alterado para a favor, e a abstenção recusou-se a sê-lo afirmando apenas isso, que era recusa de participação -> Nâo era abstenção ! (?)

E tudo isso foi possível acontecer, por via da comunicação.

O Não contudo não foi integrado, e levou a mais tarde ser afastado, por via do medo e da opressão. Dizendo que falar muito, mandar muito e-mail era censura, noutra tal opinião.

E ainda assim a pessoa, afastou-se temporariamente e manteve-se na organização.

Mais tarde participou em nova reunião e votou em jeito de maioria, por braço no ar, em fila alinhado, outro voto também representando -> qual responsabilidade, qual intimidação !

Votou que sim, para dar espaço para acontecer. Voto em maioria, por seu auto consenso. Procurou dentro de si o que seria o voto representado e consentiu ao mesmo.
Viu que havia uma abstenção.

Continuou afastada, com reduzida participação. Sentindo ainda assim uma porta aberta pois então.

Pura observação é apenas, o consenso está lá, sempre a acontecer, mesmo quando em maioria se parece viver.

Pois ainda assim, poderá tal pessoa falar, pois mesmo sendo minoria, tal ação não a parece afetar.
E ainda assim afetará, ou não a trouxesse ainda hoje com ela.
Pois acredita na tal visão, na tal missão. Só não com alguma decisão como sendo o melhor caminho para lá chegar. E ainda assim consente, que quem segue à frente o precisa fazer, para si mesmo, para que algo de belo para os outros possa fazer nascer.
Consente a que essa pessoa e essas pessoas permaneçaam no poder.

E continua a sua pesquisa, a sua procura da realidade que quer criar.
Já eu, qual poeta em vias de nascer, crio-a ao escrever, ao partilhar tais histórias. Quiçá ao ler e no cantar.

A quem me lê, leia isto.
Estou consigo, contigo
aqui tem e tens um amigo.

Poderei eu estar lá
Para quando fôr mesmo preciso
Minha porta aberta está
Mesmo que lá não venha riso

O consenso esse pois nem é dificil, nem é fácil.

Ele acontece. O que varia é o dominio.
Ás vezes é simplesmente vital,
Outras vezes é grupal.

Por ora tentamos,
Trazer à consciência
Que consenso une as pessoas
Seja na ciência
Seja na religião
Seja na pura observação

Por ora é caminho para fazer
Por ora vai sendo feito
Por ora vamos respeitando
Que há que disponibilizar pão
Na medida certa,
Na voz certa
Para que todos vão batendo
Com o seu coração

Chega assim o momento.
Vamos ao consenso.
Sem medo do passado.
Construindo o Bom-senso
Conscientes de nossos vícios
Alimentando-os em segurança
Possamos pois colaborarmos
Para todos encherem a pança
Na medida certa
Apenas a necessária
Para a vida florescer
Para finalmente reconhecer
Que consenso é mero conceito
Mera conversa intelectual.
E que o que interessa
É o que vai por baixo
No entre peito
De um abraxo
Consentido pois então
E se assim não fôr
Possa cada um pôr
Então a sua mão
Chega para lá ó Campeão !
Este não é o momento.
E por ora estou aqui,
Para permitir acontecimento.

Vamos lá meus amigos
Aumentar a fluidez.
Dar de coração.
Ser mais autênticos
Ser mais intuitivos
Ser mais racionais
Ser mais colaborativos.

Vamos lá minha família
Todos à homilia
Desta Igreja Unida
Onde Deus acontece
Sem ser preciso afirmar
Que é isto ou é aquilo
E ser mero fruto
Do acreditar

Acreditar que é possível
Vir de lá o infinito
Ser ontem
no amanhã
Já chega.
O consenso não é possível.
O consenso, o consentimento,
Simplesmente
Acontece.