O que é ser pai?

Ontem percebi que, por um momento, a minha função era limpar o chão.

O JX, nos seus quase 16 meses tirava terra de um vaso para o chão, usando um prato de vaso pequeno e arredondado.
Eu retirava terra do chão para a voltar a colocar no vaso, para ele voltar a tirar e colocar no chão. Nos intervalos metia a terra na boca.

Lembro-me de refletir sobre aquela atividade repetitiva…e de me ligar ao bem-estar desse momento…sem grandes entusiasmos nem grandes resistências…de realizar algo repetidamente, pensando nessa função que pode ser “limpar o que o meu filho suja”…e pode ser visto também como… “ordenar o que ele desordena”…

Hoje, ainda agora fomos descobrir um pêssego num balde que usamos para colocar as fraldas reutilizáveis (sossegue-se a alma higiénica que estava lavado)…e lembrei-me de em tempos andar mais de uma hora à procura das chaves de casa que estavam guardadas numa lombada de dossier na estante que temos à entrada.

O que me ocorreu chamar ao meu filho? “Tu és um mágico”…
Claro está isto apenas acontece porque encontrámos as “coisas” desparecidas.

Ao escrever noto também que isso é apenas uma possibilidade…O que ele é na prática eu não sei. Acabei de lhe dizer “Tu podes ser um mágico”, depois de confrontado com a minha própria resistência a identificar-me com isto ou aquilo, talvez por medo do conflito (a identidade com algo é um dos temas que mais nos leva a entrar em conflito com outras pessoas). O conflito claro, não é necessariamente negativo: O conflito dá trabalho a muita gente e permite que muitas pessoas sobrevivam. Vejam-se os casos dos advogados, juristas, psicólogos, informáticos, médicos, consultores, professores, mediadores de conflitos, etc… Todas estas “atividades” profissionais existem de certa forma para contribuir para nos ajudar a lidar com algum conflito da vida. Para nos ajudar a desbloquear um qualquer desconforto que tenhemos.

O que é que isto tem que ver com ser pai?
Terá pois tudo pois mais e mais vejo o pai como rei, mágico, amante e guerreiro…
Rei é aquele que procura a melhor decisão para todos.
Mágico aquele que cuida de nos preparar um caminho que acha que nos vai tomar contacto com a nossa humanidade…com esse lado que se deixa surpreender com o novo…o mistério da vida… que nos permite gostar de viver.
Amante o que nos consola nos momentos mais tristes e nos convida a apenas a “estar”, a saborear o momento. É o que cuida sem pedir nada em troca. É o que mostra toda a sua vulnerabilidade ao acolher-nos em sua casa, no seu leito mais intimo.
Guerreiro o que nos convoca a enfrentar os obstáculos que nos metem para baixo. Aquele que acredita que é capaz de vencer na vida, que é capaz de ultrapassar todo e qualquer desafio.

É, esta pode muito bem ser uma definição de pai.

Como saber sê-lo em cada instante e também connosco mesmos, pergunta o pai amante interior?
Sendo-o, responde o pai rei interior.