Que notícias te chocam e o que achas ser preciso para se poder lidar com elas em prol de um bem comum?

Depois de ver uma partilha no facebook, um desabafo de uma mulher empreendedora a criticar o favorecimento de homens fisicamente bonitos (segundo o estereótipo cultural vigente) ao nível dos grandes investimentos, em detrimento de outras pessoas, vi um dos comentários a partilhar um texto sobre a vida em São Francisco.

A título exemplificativo de algo que me choca - no que refere à capacidade de uma pessoa sustentar a sua vida - considerando a pobreza e condições deploráveis em que algumas pessoas vivem nessa cidade e também em Lisboa muitas vezes equiparada a São Francisco, um T1 por 5000 dólares/mês em São Francisco - “a cidade da inovação tecnológica”, e os sem-abrigo na rua e insegurança noturna (ver contexto em http://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/ana-rita-guerra/interior/vale-do-inferno-6259125.html),
Uma nova espécie de apartheid ?
Pergunto-me como será no Japão?

Do que já aprendi graças ao curso do MIT - Just Money, Banking as If Society mattered (https://www.edx.org/course/just-money-banking-if-society-mattered-mitx-11-405x-0), muito disto está correlacionado com as áreas onde se investe mais dinheiro.

Precisamos cada vez mais ganhar uma consciência sistémica.
Ao nível do que escolhemos comprar/consumir, dos nossos hábitos e vícios, e também ao nível do impacto que isso tem no curto, médio e longo prazo.
Precisamos mais de parar para escutar.
Parar para perceber as necessidades uns dos outros e perceber como nos podemos auxiliar mutuamente, de forma construtiva, comprometida e consciente.

Precisamos de passar menos tempo no facebook e perder o medo de conhecer melhor as pessoas a nossa volta.
E ao mesmo tempo que as conhecemos melhor, precisamos de julgar menos e de ser mais autênticos.
Quando não gostamos do que alguém faz, procuramos ir ao encontro dessa pessoa e primeiro tentar perceber o que leva aquela pessoa a fazer o que faz.
Quais são as necessidades dela que a levam a escolher aquele caminho.
Depois podemos compreender melhor. Podemos até escolher fazer algo para as ajudar a satisfazê-las.
E será importante lembrar as pessoas que nos são mais próximas em simultâneo. Aquelas que nos entregaram parte da sua vida, aquelas com quem co-habitamos.
Não se iludam. Não é fácil. Por mais ferramentas e conhecimento humano e social que se tenha (ex: Comunicação Não Violenta, Diálogo, Mediação de Conflitos, Tomada de decisão coletiva e eficaz, dinâmicas de grupo, Dragon Dreaming, Sociocracia 3.0), precisamos enfrentar este assombramento individual, coletivo e que é também cultural.
Que nos está enfiado no corpo, já assim nos conta as heranças epigenéticas - onde herdamos comportamentos e atitudes de gerações passadas…
Temos muito para desconstruir para chegar ao que é essencial.

Pode ser assustador, se não tivermos a consciência de que tudo é impermanente, e de que em verdade, se estamos vivos, então é porque ainda há alguma esperança.
Possamos pois viver mais conscientes.
Possamos usar o nosso tempo da forma melhor, para viver a nossa vida bem, e não lixar a vida a ninguém !
(epah e sim, já matei moscas, melgas e já pisei caracóis. Gostava de não o fazer, mas faço. Às vezes porque estão tão na minha altura, que não olho para baixo, ou se olho não vejo. Outras por simples ignorância e medo - medo de não saber lidar com os medos dos outros, e afinal, é apenas medo de não ser amado. Por uma qualquer coisa que terá acontecido há sabe-se lá quantos anos atrás, e por mais provas que tenho que os outros gostam de mim, continua a ser difícil conviver em paz com os insectos.)

E é assim. Vamos lá a sair do computador e perguntar, primeiro a nós próprios, depois às pessoas que nos são mais chegadas e depois aos outros todos…

Como é seres tu hoje? (obrigado Charles Eisenstein)
O que é para ti sentir-te bem?
O que é que te faz sentir contente?
O que é que te irrita?
O que é que te deixa triste?
Do que é que tens receio? (as pessoas fogem da palavra medo, mas se achares que não - Do que é que tens medo?)
O que é que te faz afastar?

O que é que precisas para te sentir bem hoje? Sabes?
Se não sabes, não faz mal.
Procura uma coisa qualquer, pode ser algo que anda sempre contigo. A tua respiração.
Só porque é aquela que talvez vá estar lá sempre enquanto estiveres vivo. E a desenvolveres apego a algo, que seja à tua respiração. Dessa forma pouparás o sofrimento da perda de algo querido.

Não significa que deixes de querer algo. Por favor quer. Vive ao máximo. Saboreia cada instante. E quando não for mais possível, chora se precisares, deixa fluir. Usa a tua raiva para criar e construir algo positivo. Expressa a tua irritação e não fujas das consequẽncias. Tem medo q.b. Vai-te embora quando não conseguires mais lidar com algo. É preferível isso do que fazer algo que possa prejudicar a outra pessoa.

Compreende quando alguém se afasta de ti e recusa os teus telefonemas, as tuas mensagens, os teus correios eletŕónicos. Essa pessoa pode simplesmente precisar de espaço e tempo para ser capaz de expressar a sua irritação, a sua tristeza, a sua alegria, o seu receio de forma a que se sinta segura.

Compreende também quando alguém te vem com o que parecem exigências. Quando isso acontecer e tiveres à flor da pele uma tensão, uma irritação, ou um medo, pára. Escuta: O que é que esta pessoa precisa? Será que ao atender à sua “exigẽncia” (que na prática é um pedido) estou realmente a satisfazer essa necessidade? Será que o atender à sua exigência é o melhor para ambos no prazo que me é imaginável, seja ele curto, médio ou longo?
Será que preciso mostrar o meu desconforto? Qual é a melhor forma de o fazer para assegurar o nosso bem-estar mais contínuo, no longo-prazo? Será que preciso de tempo para escutar e pensar ou será que atender a esse pedido, desculpa - exigência, pode ser feito no imediato e isso poupa o tempo de pensar e reflectir?

E pronto…possamos nós - eu e tu e o outro - ser capaz de fazer metade do que aqui escrevi em cada instante, e já é meio caminho andado para um qualquer lugar de bem-comum. ;-).

Tem um bom dia :wink:

Há pouco vi esta notícia, que faz um retrato de algo chamado de “escravidão moderna”.

https://www.dinheirovivo.pt/economia/neste-momento-sinto-me-escrava/

O que observo é que este fenómeno está associado a:

  • dificuldade generalizada de muitos gestores das organizações (empresas, associações e cooperativas entram aqui) a lidar com um mercado globalizado e complexo, que associo em parte à aplicação dos principios chefe-pensa, trabalhador-executa, atribuídos a Frederik Taylor, após ler http://www.betacodex.org/sites/default/files/paper/3/betacodex-organizarparaacomplexidade_0.pdf.
  • individualismo irresponsável - causado por um sistema capitalista que pode promover o indívíduo desligado de uma responsabilidade social sistémica de longo prazo, em termos de ecossistema
  • pessoas acusam outras sem conseguir assumir responsabilidade por situações em que também estão envolvidas
  • pessoas têm dificuldade em lidar com comportamentos agressivos verbais e físicos.
  • dificuldade em ouvir e lidar com críticas - que atribuo às doenças do sistema de ensino - muito orientado para promover “resultados”, baseados em taxas de aprovação e outras e que se sujeita a a um mercado capitalista individualista/familiar irresponsável e que se gere segundo principios concorrenciais sem verdadeiro alinhamento de uma linha comum e benéfica para todas as pessoas afetadas.
  • dificuldade em expressar críticas de forma não violenta
  • dificuldade de quem é “trabalhador” em empatizar com o “gestor” ou “gerente” e compreender as suas necessidades.
  • dificuldade em expressar o que se sente e em perceber o que realmente se precisa
  • instrumentalização das relações humanas, que promove atos mecânicos ao invés de pensamento crítico

Os cenários que vou encontrando como sendo de solução potencial passam por:

  • Clarificar desde o inicio de uma relação laboral quais as necessidades mais profundas que queremos satisfazer com essa relação
  • Clarificar as necessidades de quem está a contratar
  • Clarificar os principios de funcionamento do local de trabalho
  • Desenvolver a capacidade de compaixão, por si próprio e pelo outro (procurar olhar além das palavras. Maior foco no que é real e objetivo)
  • Identificar oportunidades de melhoria no local de trabalho, e procurar desenvolver propostas consistentes e claras- balizadas no tempo, definindo de forma clara as atividades a realizar e as pessoas que as devem realizar, apresentando-as à gestão, ou endereçando-as no seu dia-a-dia, com o consentimento da gestão
  • Procurar estabelecer acordos com os quais é viável um compromisso sério da nossa parte
  • Aceitar que a realidade muda. O que é dito hoje pode não ser dito amanhã. Será relevante ainda assim assegurar um alinhamento entre as várias pessoas interdependentes entre si.

Conheço algumas pessoas que se prestam ajudar a orientar pessoas e organizações rumo a um ambiente mais intencional e responsável. O @marco.abreu, o @jsoutelinho, o @vascogaspar79 prestam-se a estes trabalhos tendo em vista a expressão do mais belo potencial humano. Eu vou aprendendo.

Ao ver esta notícia e ler este texto, o que é que sentes (no plano emocional e físico?), o que é que conheces sobre esta temática ? O que é que estás a fazer hoje para ultrapassar isso? Onde é que achas que pode ser útil ter apoio de alguém?

Qual é o melhor contributo que sentes poder oferecer a esta conversa e a todos os que a lêem?

A notícia que escolho hoje é esta:

Que confirma o que já tinha identificado em mim - um vício pelo facebook, aproveitando-se de uma qualquer necessidade mais profunda que me assiste.

Durante 3 meses (até 8 de Janeiro) experimentarei apenas usar o facebook para partilhas através de ferramentas externas (ex: este fórum).

Quem quiser comunicar comigo, pode fazê-lo através deste fórum, por email ou telefone.

Considero que esta medida será também um contributo para um bem-comum na medida em que a minha atenção poderá ser direccionada com mais foco para outras várias atividades em que estou envolvido.