Uma das questões que me tem surgido nos últimos tempos por vias diferentes (quer através dos projetos em que me envolvo, quer através das redes sociais) é sobre como aumentar o envolvimento (em inglês engagement) e motivação das pessoas num determinado projeto/organização.
Esta parece-me ser uma questão central e complexa.
Ora, para saber como aumentar algo, é importante estabelecer uma referência e critérios claros, i.e. medi-lo/monitorizá-lo.
De uma pesquisa rápida, tomei conhecimento do artigo disponível em What is the best way of measuring employee engagement? | Emerald Insight, de Sue Stoneman, e onde este refere a possibilidade de se utilizar ferramentas genéricas e desenvolver uma abordagem à medida da organização em causa.
No contexto das abordagens genéricas, ele refere as 12 perguntas da Gallup (uma empresa de análise de dados norte-americana, que tem vários trabalhos sobre gestão e desenvolvimento humano no contexto organizacional)
As perguntas ali referidas podem ser traduzidas por:
- Eu sei o que é esperado de mim no trabalho?
- Tenho os materiais e equipamento que preciso para fazer bem o meu trabalho?
- No trabalho, tenho a oportuindidade de fazer o que eu faço melhor todos os dias?
- Nos últimos sete dias, recebi reconhecimento ou elogios por fazer um bom trabalho?
- Será que o meu supervisor, ou alguém no trabalho, parece preocupar-se comigo enquanto pessoa?
- Há alguém no trabalho que encoraja o meu desenvolvimento?
- No trabalho, as minhas opiniões parecem contar?
- Será que a missão/propósito da minha empresa me faz sentir que o meu trabalho é importante?
- Os meus colegas estão comprometidos a fazer um trabalho de qualidade?
- Tenho algum melhor amigo no trabalho?
- Nos últimos seis meses, alguém no trabalho falou comigo sobre o meu progresso?
- Este último ano, tive oportunidades no trabalho de aprender e crescer?
Ele refere que num dos seus clientes usaram estas questões antes e depois de uma abordagem integrada ao envolvimento das pessoas, o que lhes permitiu avaliar o impacto da mesma.
Ainda que as perguntas pareçam ser direccionadas para o trabalho por conta de outrém, podem ser também relevantes em qualquer projeto cooperativo e colaborativo.
Dito isto, será que responder e analisar cada uma destas respostas é suficiente para medir o envolvimento das pessoas num dado projeto/equipa/coletivo/organização ?
Do que se refere no mesmo artigo, e na componente das abordagens à medida, regra geral utilizam-se ferramentas de inquéritos para fazer esta avaliação, e o simples facto de se perguntar às pessoas a sua opinião - associado ao facto de as sugestões serem efetivamente impliementadas - aumenta por si só a motivação.
Refere ainda que se deve acautelar a quantidade de perguntas e a periodicidade dos questionários, para evitar a sobrecarga e consequente desmotivação das pessoas.
Numa outra linha, que diria estar correlacionada com este envolvimento e motivação, surge o conceito de felicidade no trabalho.
Uma dissertação de mestrado sobre o tema, em protuguês, baseada em estudo teórico e num inquérito a 130 pessoas e que faz uma associação entre motivação e felicidade.
Em https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/9413/1/Dissertação%20Mestrado%20-%20Miguel%20Coutinho.pdf encontramos algumas afirmações que foram usadas para medir motivação, usando a escala de Likert:
- Atualmente tenho um trabalho que me preenche/que me satisfaz.
- Na maioria dos dias acordo com vontade de ir trabalhar
- Quando estou a trabalhar, estou a maior parte do dia motivado(a) e/ou com energia.
- Tenho orgulho de falar sobre meu trabalho quando me perguntam o que faço
- Quando eu estou a trabalhar sinto-me útil e realizado(a).
- Sinto-me feliz com a função que desempenho na empresa onde trabalho.
Será ainda relevante observar aos resultados do estudo, que confirmam
Hipótese 1: Quanto maior o grau de felicidade no trabalho, maior a produtividade do indivíduo
Hipótese 2: Quanto maior o grau de felicidade no trabalho, maior a motivação do indivíduo.
E que não confirmam:
Hipótese 3: Quanto maior o grau de felicidade no trabalho, maior a satisfação do Cliente.
Hipótese 4: Quanto maior o grau de felicidade no trabalho, maior o valor económico da empresa.
Será relevante que a “felicidade” foi medida usando um exemplo de um estudo específico, e baseado em alguns indicadores (que o autor refere como adaptado de Chiumento)
- Bom ambiente de trabalho entre os pares
- Identificação com o trabalho
3.Chefia adequada ajustada
4.Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal (work-life balance)
5.Diversidade de tarefas
6.Acreditar que o trabalho realizado tem um significado importante
7.Acreditar que o trabalho concretizado faz a diferença
8.Fazer parte de uma equipa com sucesso
9.Reconhecimento das realizações pessoais
10.Salários competitivos
Se se procurar um equilíbrio entre felicidade e produtividade, Miguel Coutinho nota ainda que o
“ambiente de trabalho”, “reconhecimento e confiança” e “remuneração” são os aspetos que mais contribuem para ambas a felicidade e produtividade.
Será relevante notar que este estudo é naturalmente tendencioso para encontrar evidências sobre a relação entre felicidade e produtividade, e logo os seus resultados vão também no sentido de validar essa ideia inicial da relevância da felicidade. Se se quiser contudo olhar à produtividade e à forma como as grandes pirâmidades e grandes guerras foram feitas, depressa se compreende que há determinados resultados produtivos que aconteceram devido a trabalho forçado ou a inconsciência coletiva e emoções de medo (medo de morrer, medo de sofrer) e será facilmente correlacionável tais eventos a produtividade também.
Se por um lado celebro o auspício da felicidade como relevante e os estudos feitos para a incluir no dia-a-dia do local de trabalho, é relevante observar e estar atento aos propósitos e necessidades profundas que essa produtividade visa suprir no curto, médio e longo-prazo.
Portanto, como medir o envolvimento e motivação dos trabalhadores numa organização?
De onde vejo é relevante:
- Perceber o que é isso de envolvimento e motivação e a necessidade de os medir no contexto existente
- Perceber e clarificar quais são realmente as necessidades a que a organização quer dar resposta
- Perceber e clarificar o que é isso de bom ambiente
- Perceber como assegurar que as necessidades básicas das pessoas são garantidas (sustento - remuneração envolvido)
- Assegurar que há mecanismos de feedback que promovem o reconhecimento do trabalho realizado
- Assegurar que existe confiança entre os vários “colaboradores”/elementos do grupo.
Como perceber e assegurar tudo isto?
Que outras formas de medir o envolvimento e motivação conhecem?
(quem tiver acesso e interesse, pode também acompanhar a discussão que foi criada em: https://www.facebook.com/barbosa3/posts/10213323418985695?comment_id=10213329951669008¬if_t=feed_comment_reply¬if_id=1498600832860094 ), que procura plataformas para medir o envolvimento e a motivação e que serviu de faísca para iniciar esta conversa - algumas das plataformas ali mencionadas foram:
- Waggle
- Gfoundry
- Talmetrix
- Culture amp
- Qualtrics e Qualtrics Employee Engagement - www.qualtrics.com
- Zugata - www.zugate.com
- OfficeVibe - www.officevibe.com
- Tap My Back - http://tapmyback.com
- Balanced Scorecard
- Perk Box https://www.perkbox.com