Num grupo de partilhas de carro de que faço parte um amigo sugeriu um critério desafiante para definir amizade num dado contexto: convidar para esse grupo apenas seres humanos que pudessem ser motoristas do meu filho (a pergunta foi até mais especifica: em quem confiaria eu para levar o meu filho à escola?).
Esta pergunta abre espaço para ainda mais reflexões e a minha reflexão começou pela pergunta: será que este critério me faz sentido? E fará a ele? E se sim: porquê? Já lhe fiz a pergunta e agora sigo falando de mim e das histórias que conto sobre ter ou não ter carro e o porquê me ser mais fácil confiar um carro a alguém do que confiar um filho.
Começo pela conclusão que habita em mim atualmente:
Um carro é um objeto inanimado e a qualidade e a força de relação que tenho com ele é mais fraca do que a que tenho com um filho, meu ou de outro ser humano.
Um carro é também uma forma de me relacionar com outras pessoas: ter um carro dá-me contexto de relacionar com outras pessoas (mecânicos, agentes de seguros, trabalhadores de finanças) e não ter um carro também dá novos contextos (motoristas de qualquer tipo de transporte: autocarro, taxi, uber, amigos e aparentes estranhos que param para nos dar boleia…etc.)
E ter (acesso a, poder sobre) um carro depois de “ficar sem ele” (a última vez que fiquei sem ele foi um mês devido a um acidente), abre-me portas para os vários mundos, um deles possivelmente é fazer parte deste grupo e projeto de partilha de carros que está a dar os primeiros passos.
Sim, um carro é algo que estimo e que dele pode depender a minha Vida (pode explodir, pode nao travar quando acelero e preciso de abrandar por algum motivo, posso usá-lo numa urgência e ele falhar, pode ficar sem bateria simplesmente e uma distração minha a conduzi-lo pode matar alguém) e também depende o meu estilo de Vida: ter um carro dá-me em simultâneo liberdade de escolha e pode facilitar a mobilidade e novas relações: posso dar ou trocar boleias xom outras pessoas, e também alimenta uma preguicite e um comodismo que em dias de Inverno me sabem bem.
Por outro lado, não o ter abre-me outras possibilidades: de passar mais tempo de qualidade com outras pessoas: o meu filho incluído, e de me relacionar com mais pessoas (a necessidade de me relacionar é maior, logo a disponibilidade para tal é maior também, mais não seja pq qd conduzo um carro sozinho, perco oportunidade de me relacionar: e em parte as relações com outros seres são o que me permitem também Viver)
E depois dessa experiência de não o ter algum tempo: tê-lo também me dá mais possibilidades e consciência: posso escolher não o usar e beneficiar desse mundo de não o ter “sob o meu controlo” (mmo que nca seja a 100%: podem-mo roubar total ou parcialmente por exemplo, pode avariar, pode sofrer danos quando está estacionado, podem vandalizá-lo, e pode estar tanto trânsito que mais valia usar o comboio ou outra forma de transporte, etc.) e posso escolher também usá-lo para fazer viagens para sitios onde os transportes partilhados (até taxis e outros carros com motorista, que tenho a crença, talvez errada, de haver em mais sitios do que autocarros), e tê-lo muitas vezes perto de mim e permitir-me chegar mais depressa a sitios onde quero estar. Conduzir um carro sozinho também me dá espaço para estar comigo mesmo e reduz a energia que invisto quando partilho o carro com alguém. E ter acesso a um carro rapidamente, também me pedir levar o filho à escola e dar boleia a outras pessoas.
E claramente hoje, quando as opções de partilha de carro e de ter boleia facilmente me condicionam mais na mobilidade do que ter um carro, prefiro ter carro a não ter.
E tão interessante pode ser co-criar esse mundo em que já não preciso de ter um carro (e as despesas eventualmente desnecessárias a ele inerentes) e posso confiar que sempre que precisar de ir a algum sitio por algum motivo, terei acesso sempre a essa possibilidade: e no tempo que desejo, e quem sabe, um dia…inventemos o tele-transporte partilhado.
Se achas interessante esta ideia de partilhar carro, diz-me;
e se conheces algum projeto similar, diz-me também.
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