O que está provado que pode ser uma aula Prática de Gestão de Conflitos e Negociação

Na passada segunda-feira, 2016-11-14 enre as 18 e as 21 tive a oportunidade e o prazer de facilitar uma aula prática de Gestão de Conflitos e Negociação, para um número de pessoas variável, entre 40 e 60 direi eu por olhómetro. Tenho a agradecer em particular à pessoa que fez o convite, a quem me referenciou, a quem co-facilitou, a quem me respondeu a pedidos de co-facilicitação, a quem me apoiou, e a todas as pessoas fantásticas que estiveram presentes e aceitaram as atividades propostas de espírito aberto, sem saber o que viria a seguir.

Evito utilizar nomes de pessoas, para salvaguardar o anonimato das mesmas. As que quiserem e sentirem o apelo, ficam desde já convidadas a partilhar a sua visão sobre este processo, neste mesmo local ou diretamente.

Escolho partilhar a minha visão sobre o processo que aconteceu, numa óptica de contribuir para o Comum com um exemplo real do que considero ter sido uma experiência única de partilha e enriquecimento humano.

A sessão teve vários momentos, que tendo um guião por base, foram fluindo à medida do sentir do facilitador principal (eu neste caso)

  • Acolhimento (na sala, já com pessoas a entrar, pedir para as pessoas se dirigirem para as folhas A1 colocadas na sala, e à medida que iam chegando durante a aula, dar as boas-vindas e encaminhar para os grupos que tinham menos pessoas)
  • Apresentação dos facilitadores pela anfitriã e pedido para manter espírito aberto
  • Apresentação entre membros dos grupos pré-criados (eram 10 no total), segundo algumas sugestões: Nome; ocupação; 3 paixões; 3 irritações
  • Partilha nos grupos de algo desafiante p/ cada pessoa (facilitador pede a que quando uma pessoa partilhe, o grupo escute, indicando que o papel do grupo, caso surja alguma emoção, é “proteger” e cuidar desta pessoa - dando exemplos do que isso significa, ex. se alguém começa a entrar em espircal negativa, ou se alguém começa com extrema euforia…o grupo deve “segurar” essa energia: permitindo manifestá-la de forma protegida, e indicando que no momento as pessoas saberão o que fazer.
  • Momento de ouvir a mensagem que passaram pela voz de outra pessoa:
    – Cada pessoa escolhe uma outra do grupo e pede para ela dizer o que ouviu. facilitador dá contexto: se a pessoa não ouviu tudo, ou mesmo até nada - pode haver várias razões para isso - desde a sala ter muito barulho, a a pessoa estar a pensar em outros temas da vida dela, não há problema. Se a pessoa tem dúvidas se ouviu bem, após dizer deve perguntar “O que disse está alinhado com o que disseste?”, “É mais ou menos isto?”. Ou se não ouviu nada, pede a outra pessoa do grupo para apoiar. Na altura facilitador refere que este é um lugar de vulnerabilidade, e que corremos o risco de ouvir “não vou repetir”, p.ex. É importante o resto do grupo segurar o campo para estas pessoas também.
  • Exercício individual de Escrita automática (5 min.), com explicação prévia, e respondendo à pergunta “Imagina que uma outra pessoa tem algo que te faz feliz para sempre…Que algo é esse?” (a forma de ler a pergunta pode ser adaptada ao contexto - Ex: Imagina que há alguém que tem “Aquela coisa” que te dá a felicidade eterna. Que coisa é essa?
  • Intervalo de 15 a 20 min
  • Aferição da energia geral do grupo
  • Pergunta sobre o que faria as pessoas com menos energia estarem com mais, e propostas para resolver (no caso a sugestão foi haver 5 min meditação)
  • Pergunta à sala: quem é que gostava de partilhar algo sobre as atividades antes do intervalo
  • Agradecimento às pessoas que falam (indicando ser um ato de coragem)
  • Interação de facilitador com as pessoas em geral, onde se pergunta o que é que as pessoas sentiram quanto às atividades anteriores, procurando escutar todos os grupos.
  • Pedir para pessoas dizerem Bingo quando se revirem no que é dito. (incentivar e guiar as pessoas para dizerem em simultaneo e com mais energia caso necessário)
  • Após ronda pelos grupos, ver se há alguém que queira acrescentar algo
  • Responder ou abrir a diálogo, consoante o sentimento da energia e do tempo disponível no momento (no caso, uma pessoa avançou com um comentário que causou um “burburinho” que percebi ser de discórdia e o que aconteceu foi perguntar interesse para e dar feedback sobre o lugar para onde a conversa podia estar a ir e para a importância de estar conscientes e ter cuidado comc as afirmações que se fazem e como isso pode afetar a energia do grupo…principalmente no caso onde era algo como “eu” - por estas razões - “sei mais que vocês todos”…Enquanto facilitador e olhando ao tempo, escolhi dar esta perspetiva, e invoquei situação e exemplos em que as razões enunciadas poderiam não ser válidas, usando método interrogativo a sala toda. Dei depois opção para comentários de outras pessoas.
  • Dar espaço para quem não terminou exercício de escrita automática terminar, e enquanto o fazem, sugerir durante esse tempo (5min), exercício de meditação (foco na respiração), perguntando se alguém vê alguma razão para não fazer, e procurar integrar essas razões no exercício. No caso a opção foi dar liberdade para as pessoas escolherem a sua forma preferida para meditar (podia ser estar ali, com olhos fechados, se com olhos abertos fixar um ponto, ir para fora da sala caminhar, sem comunicar com outras pessoas, etc. Durante a meditação, guiar as pessoas. (dicas como: inspirar e expirar profundamente, tentar sentir onde o ar toca) e ao fechar os 5 minutos, convidar a regressar à sala e espaço coletivo
  • Perguntar se alguém quer partilhar algo, mesmo até algum desconforto com exercício e integrar desconfortos (no caso, uma pessoa tinha dificuldade em meditar e sentia até ansiedade. Referi para ela experimentar pouco tempo e vários métodos, dando exemplos de meditação ativa e referênciasc - Osho - tb que poderiam ajudar a lidar com a questão - 45 min corpo, com foco e mov. repetitivos, e 15 min meditação no final)
  • Estando a 10 min do fim da sessão, convidar as pessoas a ir para um localc onde possam estar todos em forma circular, ou o mais aproximada possível
  • Explicar o porquê da escolha desta forma (no caso, criar espaço de expressão segura de vulnerabilidade e confiança)
  • Enquadrar os exercícios com a disciplina: no caso - a importância de segurar o espaço, de falar de sentimentos e emoções e questões pessoais em grupo, e saber escolher o que dizer face ao contexto, dar feedback sobre o que se ouve como forma de prevenir conflitos, e da importância de responder à questão da felicidade em contextos de negociação.
  • Agradecimento ao grupo
  • Sugerir uma palavra ou movimento individual (indo ou não ao centro), indicando “o que levo daqui hoje?”
  • Após todos dizerem, dar as mãos e sugerir que cada pessoa “passe o testemunho” à outra (o movimento surgiu naturalmente de um membro do grupo…uma espécie de jogo da sardinha coletivo, com um movimento sequencial, tipo onda), e fechando que na Universidade também é possível fazer este tipo de dinâmicas e usar o espaço para as mesmas.

Ao longo da sessão, entre exercícios fui também contextualizando e falando de métodos de gestão de conflito…Desde introduzir o tempo do relógio como mecanismo de prevenção de conflito e para potenciar a colaboração, a importância de se estar atento ao tempo do relógio, à de se ser flexível com os diferentes tempos das pessoas, a usar guiões quando estamos a liderar/facilitar processo, a encarar possíveis ansiedades antes de um processo com resiliência.

Havia ainda um outro exercício proposto, tendo-se desafiado cada grupo a fazer no seu tempo livre, em grupo ou em pares:

  • Escolher em grupo algo que faz outra pessoa feliz
  • Processo de brainstorming/tempestade de ideias para como fazer acontecer
  • Elaboração de um acordo em conjunto (ver sugestão de modelo contextualizada aqui, ou diretamente em baixo:

No fim, havendo folhas não utilizadas e sido pensadas para tal, entregaram-se as mesmas com a sugestão de as incluir numa próxima aula e estimular ao uso para o último exercício.

A passagem entre as atividades foi feita ao ritmo de cada grupo: à medida que iam terminando o exercício - enquanto facilitador o papel foi circular pelos grupos, a ver se havia questões e se já tinham terminado, e nesse contexto apresentar a próxima atividade.

Houve alguns momentos de partilha da parte do facilitador, numa óptica de estabelecer clima de confiança, e também de expressar de desconforto perante a “desatenção” de alguns alunos e dando-lhes o contexto para perceberem se estavam ou não a receber valor ali e se não, que podiam sair para se respeitarem também a si próprios.

Após, mais tarde, ver uma pessoa sair, penso que poderia ter sido uma opção convidar a pessoa a explicar o porquê de não estar com atenção e em grupo decidir sobre uma proposta para integrar esta pessoa. Dito isto, no momento, face ao nível de energia presente e ao meu próprio como facilitador, a opção foi a de manifestar o que sentia e de fazer o pedido à pessoa para se escutar. Uma aprendizagem que faço deste tema em particular é que nem sempre a situação ideal se manifesta, e que mais importante é permitir fluir, num lugar de compaixão - pelos outros e por mim próprio.

Num contexto onde novas pessoas íam chegando e algumas saindo, no final diria aproximadamente que 70% do total das pessoas que por ali passaram participaram no círculo final, mesmo com uma aula a seguir.

Esta fluidez e este dinamismo foram possíveis após pelo menos 2 dias de criação e preparação de um guião, bem como de apoio de outras pessoas no meu próprio processo de gestão de ansiedade e receio, desde dicas práticas para o guião a convites a reflexão: “O que é a pior coisa que te pode acontecer”, convidando-me assim a relembrar o método de MAPAN, da Negociação Win Win, na óptica de alcançar o melhor acordo possível, para as partes de mim em conflito (a que queria muito facilitar a oficina e a que tinha medo de não ser capaz), e além disto, a disponibilidade em abdicar do tempo a dois na relação de casal, em prol de me permitir fazer algo que me apaixona - isto a que chamo de “Cultivar Amor”.

Convido a todos os que estiveram presentes e acompanharam de alguma forma este processo, e aqueles que não o tendo feito, sentem que o mesmo lhes pode ser útil de alguma forma, a escrever o vosso comentário e partilha…

Começo por agradecer com intensidade o amor, coragem e disponibilidade com que o Diogo e o Rogério se dedicaram a este momento de diálogo e aprendizagem mutua.
Trazer mudança para as universidades e integrar prática com a tradicional teoria - que dá a segurança dos conceitos e tantas vezes nos distancia - e colocar-nos a olhar nos olhos, falar uma linguagem nova, partilhar o mais rico da nossa humanidade, tornarmo-nos vulneráveis e caminhar juntos exige um coração aberto e uma vontade fundada no respeito e carinho pela humanidade.
O texto do Diogo descreve com clareza translúcida o que foi vivido. Também conto assim a história vivida.
Já o partilhei com os alunos e na segunda feira vou convidá-los a caminhar comigo sobre ele e sobre as suas vivências e reflexões.
Junto só o agradecimento que o Diogo recebeu no final da aula vindo de duas alunas emocionadas,d e lagrimas nos olhos, a agradecer por se terem nessa aula conhecido e reconhecido de formas não antes experimentadas, apesar de trilharem o curso há 3 anos juntas. Uma emoção sinal de vida, abertura e celebração da proximidade que as une.
Obrigada, portanto, por tudo.
Muito se avançou numa só aula.
Aqui virei partilhar o que acontecer na segunda feira na aula, continuando a honrar pessoas como vós e a forma bela como escolhem viver a vida pelos outros e com os outros.
Helena

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