Dia 41 - 2023/08/07

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07h55 de dia 8

Acordei pelas 7h30. Vi os raios de luz que passam por baixo do minúsculo intervalo que separa o estore, fechado, do chão, e decidi levantar-me.
Fui direto para a casa de banho, defecar e banho.
Sento-me aqui e lembro-me, com alguma frustração, de que não fiz os exercícios matinais. E que agora já não quero fazer, para n suar dps do banho.

Sobre ontem…(observo alguma falta de clareza na memória, sem saber ao certo se a primeira .memória que me veio refere a ontem ou a outro dia…e não quero ir ver…vou confiar e seguir caminho)

Saí do quarto ja perto das 9h00, rumo à reunião comunitária da manhã.
Ali sentado no sofá, lembro-me de pensar se “a residente do gelo” iria estar connosco…a reunião iniciou-se sem ela estar presente.
Já depois do check-in e na escrita do quadro, em que 3 de nós dissémos querer ir ao ginásio, (A única residente que quis ir foi uma que só tinha ido umas duas vezes tv, na primeira semana da casa. Fiquei contente por a ver a esforçar-se por fazer algo que gosta contrariando a tendência de ficar no quarto das ultimas semanas. A residente que tem ido cmg, embora tenha dito no dia anterior que ía, disse na reunião que não ía. Lembro-me de sentir alguma raiva com isso…e observo que eu próprio já desdisse o que disse. Esta raiva provavelmente esconde o medo de não haver quem quisesse ir cmg e o ginásio nao se concretizar…e rapidamente se desvaneceu quando tomei consciência disso),
chegou a “residente do gelo” e fiquei contente, embora ela ainda não quisesse ir ao ginásio.
A reunião prosseguiu normalmente até ao fim e alertaram-nos que o meu residente vizinho iria ser internado em hospital…ao inicio iam tentar que fosse voluntario, em Évora, e só dps, sem mais opções, compulsivo na sua area de residencia (Lisboa).

Durante a reunião ainda exprimi duas ideias fantasiosas, de haver um espaço para acolher pessoas que se crê poderem estar em risco de se fazer mal a si próprias ou a outros, e que recusam a medicação. Neste espaço haveria terapeutas, psiquiatras e “coaches de alta performance”, eventualmente tb mestres de artes marciais, mestres da arte da leitura corporal/facial, da comunicação não violenta, da gestão e leitura das emoções. Digo mestres pois será importante não só serem especialistas na dita área mas tb criarem espaço para que o outro desenvolva ferramentas para ganhar mais confiança em si e nos que o rodeiam, eventualmente aprendendo algo quando estiver mais estável.
Desconhecendo a existência de tal espaço (e com uma certa vontade de o criar, só para ver se resulta)…veio-me tb a ideia de contratar um desses “treinadores” e propôr ele partilhar quarto com o meu vizinho.
Depois de partilhar as ideias (em que a primeira não estava ainda tão desenvolvida), disse tb que tinha consciência da probabilidade de não se concretizarem.
Partilhei tb na reunião que precisava de me focar mais em mim, no sentido de continuar o caminho a que me propus fazer nesta casa a nível pessoal: ganhar clareza profissional.
Observo ainda assim que o facto de estar algo aberto às influências do ambiente que me rodeia é algo positivo e que me permite crescer e aprender de formas inesperadas e igualmente enriquecedoras.
E é esta abertura que me permite tb conhecer pessoas novas e descobrir novos mundos, o que me dá uma certa satisfação.
Neste caso em particular, refiro-me às interações escritas com o pai do meu vizinho residente e a sua partilha de algum do seu percurso e de um poema seu publicado e de um guião, para já só para mim.

Reflicto sobre a importância que é as pessoas que vivem ou viveram uma situação desafiante a nivel de saude mental: seja na primeira, segunda e até mesmo terceira pessoa, comunicarem entre si e criarem laços.
Tv assim, ao ritmo da criação de novas relações, seja mais fácil por um lado suportar o sofrimento que é acompanhar alguém que vive, aparentemente, um desafio de saúde mental e que não comunica de forma clara para aqueles que amam, e por outro encontrar formas menos e menos intrusivas de lidar com este tipo de situações.

Depois da reunião de ontem, fui tomar o peq. almoço…

E por falar nisso: 8h41 - 46 min de escrita - vou tomar o de hoje

9h32 de dia 8

Estava já com a comida na mesa e quis terminar o registo diário. Entretanto a rapariga do gelo chegou e sentou-se entre mim e outra residente que tb ali estava a comer e disse algo como “Que bom que é tomar o peq. almoço acompanhada”, sorridente. Olhei para ela, sorri, pelo menos interiormente, e voltei à escrita.
Terminei a escrita com um suspiro, com a observação de que este desafio a que me auto-propus de escrever diariamente pode tb ser algo cansativo…e ainda assim julgo ajudar-me a libertar a mente e organizar o pensamento, ao que continuo.
Falámos um pouco sobre o doc. do dia anterior, ela estava com um discurso algo triste e fui oferecendo feedback e outras perspetivas, bem como uma possibilidade de exercicio fisico em casa, que ela aceitou. Fiquei contente com esta partilha e qualquer medo que existia em relação ao impacto do doc. na nossa relação foi mitigado.
Entretanto já eram 10h e eu ainda precisava ir ao quarto buscar as coisas para o ginasio e tinha o prato para lavar…Ela terá percebido alguma ansiedade da minha parte e propos lavar o meu prato. Aceitei e agradeci, correndo para o quarto para buscar o que precisava para o ginasio e correndo depois para a carrinha, já com o motor ligado e onde já estavam todos os que iam. Entrei, sentando-me, comentei algo como " ainda bem que este comboio espera" e agradeci, fechando a porta de trás.
No ginásio, entrámos só dois, sendo que o terceiro residente foi à sua rotina habitual para tomar o peq. almoço…
Na recepção estava a atraente instrutora de pilates, ainda que não olhasse mt para mim enquanto falávamos.
Soube que havia o risco de não haver circuito se não houvesse pessoas suficientes e ela propôs que começasse pela passadeira e depois ela ia la chamar-me se houvesse circuito.
A outra residente não tinha intenção de fazer circuito.
Trocada a roupa e posta a mochila no cacifo que fechei com o cadeado, fui então para a passadeira. Comecei na velocidade 5, num dos modos com video - o do “lago” se não me engano - e passado uns minutos a passadeira parou, dando um erro.
Fui avisar o PT (que me recebeu no primeiro dia a que fui ao ginásio) que ali estava por perto a acompanhar outro senhor e ele rapidamente foi à máquina, carregou no botão de emergência e selecionou o modo simples (que tem um “dashboard” com vários indicadores)…acelerei para 5.5, continuando a caminhar por mais 5 min… Parei, consciente que já passaria das 10.30, hora a que iniciaria o circuito. Fui falar com o instrutor do circuito que estava por ali e percebi que era o unico interessado pelo que não iria haver. Ele orientou-me para as máquinas, e tive a sensação de que teriam mudado de sitio…mas depois, quando me sentei na maquina ao lado daquela onde estive, pensei que tv fosse uma ilusão de óptica causada por uma memória já com umas semanas.
4 séries de 12, média de 20 kg por máquina…peito e braços em 3 máquinas, com pausa entre cada uma vindo ter cmg ou indo eu ter com o instrutor (a certo momento outro).
Terminei com duas máquinas para trabalhar as pernas…uma empurrando, de baixo para cima na diagonal, com as costas apoiadas e só as pernas a mexer, e outra a trabalhar os quadricipedes…enquanto me entrava pelos ouvidos a conversa do instrutor com a praticante do lado…falando do que parecia ser os exercicios de código e do que era preciso para passar…a certo momento, a praticante, de sotaque brasileiro, fez um comentário do género “por isso é que Portugal não evolui” e senti raiva em mim, vindo pensamentos algo xenófobos que não quero para mim…lembrando-me de uma série de perguntas e respostas do quora com brasileiros a fazer perguntas algo enviesadas sobre Portugal e portugueses e outros brasileiros a criticar a pergunta…revelando que nem todos os brasileiros pensam mal de Portugal e que vários, seja qual for o pedaço de terra em que nasceram, pareciam ter uma visão crítica e cordial, com a qual me identifico.
10h14 - vou-me focar na tarefa de manutenção a que me auto-propus: continuar a “catar ervas” dos tapetes de relva plástica do exterior

13h57 de dia 8

Eram já 12.00 quando saí ontem do ginásio, ficando a outra residente ainda lá mais um pouco.
Fui pelo caminho que experimentei da ultima vez, por ter mais sombra, e perto do cafe rossio estavam já sentados, num banco de jardim os outros dois residentes (um sobre quem ja escrevi e a outra que tinha ido à fisioterapia), por baixo de uma árvore chamada Jacarandá.
Passado um pouco chegou a outra residente e, já depois da hora combinada, a técnica com a carrinha.

O atraso deveu-se a ela ter ficado mais tempo na Casa para dar apoio na saída do meu vizinho residente para o Hospital de Évora, com a coordenação das urgências do qual a equipa da Casa estava coordenada, para o que se esperava poder ser um internamento voluntário.

Chegados à casa, fomos almoçar.
Depois de almoço foi o mbti, onde refleti em voz alta sobre a minha saida dos recibos online, contando uma historia diferente do que tinha contado inicialmente…tendo no total mais de 20 minutos de antena, entre exposição e perguntas e respostas.
Pelas 15h00, sentei-me um pouco na sala e já perto das 16 lembro-me de estar a responder a um email do pai do vizinho residente, altura essa em que a rapariga do gelo veio ter comigo para fazer a “passagem de conhecimento” (e avental e toca de cozinha…no sentido de reaproveitar) quanto à tarefa da cozinha em que eu a ia substituir…eram umas 15.53…pedi-lhe 4 minutos para terminar o email, e ela foi lá para fora fumar…eram já 16.00 quando ela passou por mim e disse que já tinha passado o conhecimento à técnica que estava na cozinha. Fiquei triste por não ter cumprido os 4 minutos e pedi-lhe desculpa, terminando nos segundos seguintes o que email e indo para a cozinha.

Ali estive com uma técnica que mais tarde afirmou “a cozinha não ser o seu ambiente” e a residente com quem por vezes vou ao ginasio, que já cozinhou para perto de 40 pessoas e tinha experiencia de ser “chef” nesses contextos.
A minha primeira tarefa foi cortar uma manga em pedaços e colocá-la num recipiente, para ser comida “à parte”.
Depois, aceitei uma sugestão de uma forma diferente de fazer arroz da qual estou habituado: ferver primeiro a água e só dps colocar o arroz (metade da porção de água), deixando cozinhar por uns 8 minutos…
Provei ainda o caril de frango para ver se estava bom de sal (a chef honorária diz que não prova, sendo que tem tendência a pôr pouco sal) e estava “bom o suficiente”.
Já não havia mais tarefas e regressou a residente do gelo e provou os cogumelos, dizendo estarem ok.
Depois de sair da cozinha (ou terá sido mais cedo?) fui pôr a roupa a lavar e depois fui chamar as minhas colegas do grupo para ir à reciclagem. Apenas a residente do gelo quis ir.
E assim fômos na carrinha com a psicomotricista.
Ficámos a saber entretanto que o vizinho residente não tinha querido tomar a medicação no hospital e como tal o regime de voluntariado foi suspenso e era preciso ir em regime compulsivo para o hospital da área de residência, em Lisboa.
A técnica que o acompanhava tinha ficado com ele até chegar a ambulancia que o levaria a Lisboa.
Tenho ideia de algures neste processo ele ter aceite a presença e contacto com o pai dele.
Fiquei contente, apesar de toda a frustração com a situação, por saber que ele teria com ele uma pessoa que se preocupa com ele.

Sacos de reciclagem separados e colocados no ecoponto, regressámos à casa.
Pelas 19 foi a reunião comunitária, pelas 19.45 o jantar, onde comemos os caris e o arroz, que estava um pouco insosso, e que podia ser compensado com sal de mesa.

Depois de jantar tivémos a jogar ao “Time’s up”, por sugestão da residente do gelo, desta vez de forma diferente: cada um teria um pedaço de papel colado na testa (com baba - técnica que fiquei a aprender, lambendo-se diretamente o papel, ou a quem conseguiu, com uma certa cara de nojo, lambendo a mao e colocando a baba no papel e depois o papel na testa), e faria perguntas de sim ou não ao grupo, jogando-se em rondas.
Começámos com animais, seguiram-se objetos da mesa, depois pessoas da casa, depois cores.
Já eram umas 22.40 quando terminámos e me fui deitar, depois de, enquanto na sala para ir buscar o meu computador, ter sido presenteado com um sorridente “boa noite” da residente do gelo.
No quarto, fui lavar os dentes e sentei-me na cama.
Ainda ouvi/vi 2 videos do Jaspreet, entretanto na fase “Lead your money”, que apresentou a regra dos 75/15/10, que se me lembro bem consistia em 75 % do rendimento (no momento em que o mesmo dá entrada) ir para as despesas, 15 para poupança e 10 para investimento, havendo quem, com o tempo, vá aumentando a componente do investimento.

Tb falou que um dos primeiros setores em que ele investiu, aos 19 anos, após a crise de 2008, foi o imobiliário, aproveitando-se da crise que havia na habitação e dos preços mais baratos.

Chegou entretanto o meu colega de quarto e passado pouco tempo decidi dormir, colocando os tampões dos ouvidos. Eram perto das 23.30 a última vez que olhei para o relógio.

Acordei umas vezes durante a noite mas não estive mt tempo acordado, e qd me levantei hoje pelas 7.30 senti o corpo descansado, ainda que consciencia de ter sonhado bastante, sem me conseguir lembrar dos sonhos.

18h10 - tempo de me focar na minha investigação profissional