Dia 43 - 2023/08/09

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7h39 de dia 10

Levantei-me já depois das 7h00, fazendo o exercicio matinal e depois de um sonho em que eu apanhava o que acho que era o metro para Corroios e lá chegando recebia indicações de um sr para o meu destino, e que se passasse perto de uma “piscina” devia ter cuidado para não me aproximar por causa da criatura. Ao passar a piscina vejo uma criatura grande a nadar que tinha uns tentáculos que terminavam em forma de pinça robótica (pergunto-me se esta ultima parte foi influenciada pelos filmes dos monstros fantásticos e pelas breves cenas que vi do tomb raider com a Angelina Jolie)…segui o caminho e creio que me juntei a outras pessoas que acho que conhecia num outro transporte. Creio que parou perto de uma zona de refeições e eu segui para a minha formação…
Fica o registo, sem gd compreensão…

Ontem…Depois das mais de 3 horas de escrita matinal, cheguei à reunião comunitária onde, se não fui o último, fui dos últimos a chegar…sentindo-me triste pelo atraso de 1 min, e contente por ainda so naquele momento estar a começar o check-in e por ver a sala cheia.
Senti desconforto ao ouvir check-in de técnicos dizendo que estavam a pensar no ex-residente e quando chegou a mim usei uma metáfora para falar disso: que estava a sentir as réplicas do sismo que houve com epicentro no meu ex-vizinho de quarto…
Não sei já se foi nessa reunião que explicaram que ele, já no Hospital Sta Maria, teria sido forçado a tomar a medicação (ficando a saber na reunião da tarde que o terão amarrado para lhe dar o injectável).
Veio-me raiva e tristeza: como é possível desrespeitar os direitos humanos ao abrigo da lei, baseado no medo do que possa vir a acontecer no futuro, apenas baseado em historias do passado.
Pergunto-me se alguma vez irei fazer algo para contribuir para uma mudança sistémica do tratamento de pessoas que se recusam a tomar medicação e que as respeite.

Na reuniao fiquei a perceber que íamos 5 pessoas ao ginásio e fiquei contente e curioso sobre o que cada um iria fazer.

Depois da reunião fui logo calçar-me e preparar as coisas para o ginasio e só dps comer: tinha aprendido a lição do outro dia em que andei a calçar-me “a correr”…

Já na carrinha, percebi que tb nesta atividade havia um tempo de tolerância de 10 minutos para as pessoas todas chegarem e que a carrinha tem um indicador de porta aberta no visor do condutor.

No ginasio 4 de nos fomos ao circuito, que tinha mais uma ou duas etapas que da ultima vez. E 3 de nós ficámos para o pilates, saindo eu mais cedo para me arranjar ps precisava estar no cabeleireiro as 11.40…
Saímos esses mmos 3 do ginasio pelas 11.34 e a certo momento tive necessidade de acelerar o passo para ver se chegava a horas e cheguei à hora exata ao cabeleireiro.
Foi agradável e falei mais do que o costume de qd vou ao barbeiro, ficando a saber que tinham aberto no ano antes da pandemia e dps feito “mta meditação” para ultrapassar os anos seguintes…e tb soube que já tinha trabalhado com a Casa de Alba tendo deixado de o fazer por incompatibilidade horária (eu disse-lhe que estava aqui, no contexto da minha resposta à pergunta dela de como soube do cabeleireiro). Quando ela me perguntou se estava ok o corte dizendo que tinha deixado um pouco mais em cima (o que me deixou reflexivo), perguntei as horas e sabendo que eram já 12h10, faltando apenas 5 min para a carrinha nos ir buscar ao rossio, decidi que sim: estava bom o suficiente.
O corte custou-me 8 euros e segui para o café, onde estavam todos os residentes que tinham ido ao ginásio.
Recebi um elogio da “residente do ginásio” (que agora já n é a única) que agradeci.
Chegou a carrinha, fomos ao lar e vi a minha expectativa de mostrar o palco do centro de convivio a quem ainda não tinha visto, frustrada.
Voltámos à casa, ajudámos a descarregar e fui comer: frango com arroz…
Observei o lugar da residente do gelo, pensando na proposta de influenciar os lugares das mesas para que não haja uma segregação entre residentes e não residentes, e sentei-me a um lugar de intervalo dela e percebi que não era suficiente…que para o resultado pretendido se manifestar, precisávamos de envolver mais gente. Comentei isso e dps, perante a resposta da residente do gelo sobre a nossa “missão”, a residente do ginásio perguntou “que missão” e a residente do gelo partilhou em voz alta a intenção de se tentar evitar a dita segregação (sem usar estes termos).

Observei que conseguimos algum resultado, mais n seja por ser quarta-feira e haver mtos técnicos na casa.
Observei 3 “agrupamentos de técnicos”, um deles com a maioria (creio que chegou a 4), um com 2 e outro com 2/3.

Pensei que eles tv precisassem deste espaço entre eles tb, sendo o mais perto que conseguem estar de uma pausa de trabalho para almoço.

Tb observei a psicoterapeuta mais recente sentar-se no final perto de mim e a uma cadeira de distancia deste pólo de técnicos (entretanto acho que se tinham juntado uns 5), pensando que ela tv ainda nao se sentisse mt integrada no grupo.

O frango estava algo seco e a meio eu comentei isso com o meu colega de quarto que estava o meu lado, que mencionou o molho abundante que havia no tabuleiro. Eu n tinha reparado no molho e fui buscá-lo, o que melhorou claramente o meu almoço.
Como nova ameixa, que me soube bem.
Pelas 14.00 estavamos algumas pessoas na sala quando a residente dos croissants se lembrou de que queríamos propôr a reunião extra, por causa do tema do fundo comunitario que o diretor clinico tinha mencionado como “algo a falar”, já há duas semanas atrás. Perguntou-se ao tecnico presente cm funcionava. Bastava levantarmo-nos e chamar todos da casa e assim foi.

Passado instantes estavamos todos a discutir o tema do fundo comunitario e percebemos que os técnicos nao sabiam exatamente a intenção do diretor clinico.

Tenho observado por vezes esta falta de comunicação dentro da equipa, que acredito que beneficiava se fosse mais centrada nas tarefas (havendo um quadro tipo kanban c todas as tarefas em curso e por fazer e indicando o responsavel por cada uma, podendo qq um dos outros substitui-lo qd necessário). Tv proponha isto na reuniao.

8h36 - vou comer

Passados os 30+15 min da reuniao extra, pelas 14.45 apercebi-me qu a loiça do almoço estava por lavar e fui perguntar à residente do gelo se ela iria lavar (era a tarefa dela este almoço)… Percebi alguma resistência e senti algum desconforto em mim com este papel auto-assumido de lembrar as pessoas de algumas tarefas da casa…Pergunto-me porque o faço…tendo sido esta a primeira vez que me senti desconfortável ao fazê-lo.
Acho que tem a ver em parte com “assegurar” a recompensa associada às tarefas de equipa (há tarefas de equipa que precisam ser executadas a 100% durante a semana para se ter a recompensa semanal no dia das compras), em parte de contribuir para o espírito comunitário e em parte de apelar ao sentido de responsabilidade das pessoas.
Neste caso em particular possivelmente haveria outros desconfortos associados…era eu a lavar a loiça ao jantar e n queria lavar loiça do almoço tb, e o medo de ser visto cm “controlador”…principalmente pela residente do gelo…
Entretanto ela foi lavar a loiça e pc depois das 15.00 já estavamos todos os elementos do grupo, excepto ela, prontos para sair para as compras.
Fui ver se a podia ajudar e avisar que estávamos prontos para sair. Desta vez já n me custou tto lembrar, tv por saber que ir as compras era algo do seu interesse e porque me disponibilizei a ajudar a arrumar a loiça.

Fomos então às compras e cada um tinha 25 euros, pois a folha de registo das atividades do nosso grupo estava desaparecida.
Nas minhas compras individuais sobravam pouco mais de 5 euros e decidi levar uns gelados para a comunidade, lembrando-me que já tinha tb comido gelados comprados com o plafond de outras pessoas.
No final das compras de todos sobravam perto de 15 euros e fui com a residente do gelo escolher mais coisas para a comunidade. Trouxemos mais gelados, de outro tipo, uns pistachios e umas SunBites.

10h10 - hora das limpezas
12:33

Ainda me cruzei com uma revista da National Geographic que abordava o tema do sono e senti-me tentado a comprar, por ter sido esse o indicador principal que me trouxe à casa. Vi o preço numa das caixas automáticas: 10 eur. Decidi não comprar pois achei que era mt caro face ao tempo que eu provavelmente lhe iria dedicar nos proximos tempos (já tendo tantos programas em que estou inscrito…e sem dar atenção a todos).

Regressámos à Casa e arrumámos as compras.
Com uma caneta vermelha que estava na cozinha escrevi “Comunidade” nas 3 caixas de gelado e o nome das residentes do gelo e do ginasio numa pizza das duas.

12:50 de dia 10 - hora de almoço

13:47
Pelas 17h45 uma das residentes encarregue dos animais não encontrava o meu colega de quarto que ia com ela dar a comida. Fui ainda ver se ele estava no quarto e não o encontrando tb voluntariei-me para ir com ela.
Ela foi dar a comida às galinhas enquanto eu fui buscar a comida e água para a cadela.
Depois, fomos os dois dar os comprimidos à cadela. Ela tentou umas duas ou tres vezes sem sucesso e dps tentei eu, no sentido de mostrar a técnica que a residente dos croissants me tinha ensinado logo nos primeiros dias de casa…a Alba demorou algum tempo para engolir o primeiro comprimido e quando o fez, afastei-me para a outra residente experimentar novamente…e ela usou a mesma técnica, resultando com mais rapidez.

Esvaziei a bacia que tinha já água algo suja e despejei o garrafão inteiro, enquanto a outra residente…chamemos-lhe a residente do sabonete (que se disponibilizou para me trazer um sabonete na segunda-feira, quando eu pedi na reuniao comunitaria) colocava a comida na tigela vazia.

Depois disso creio que estive na sala avançando nas leituras do doc da empresa social, até às 19h00, hora da reuniao comunitaria. Antes da reunião ainda: veio um dos tecnicos despedir-se, pois ia de férias, mostrando surpresa quando lhe disse que ía sair já na próxima terça e que já não nos cruzariamos. Ele disse algo como: “Então e agora quem é que vai fazer as reinvidicações”?, Fazendo-me valorizae este lado crítico dos sistemas com wue contscto; aferi tsmbém do interesse da residente do croissant no Papo a Papo e efectivámos a troca do baralho pelos euros…ainda pensei se me faria sentido oferecer-lhe o baralho, e não o fazendo prometi a mim mesmo pôr aquele dinheiro a bom uso.
Chegaram as 19.30 e perguntei, assinalando o fim da reunião comunitária de formato livre, quem vinha ao lixo. A residente do gelo respondeu afirmativamente e a do ginasio fez uma expressão que indicava o não e disse algo nesse sentido e entretanto a psicomotricista levantou a hipótese de haver pouco lixo e que tv n fosse necessário (nao sei já as palavras exatas)…
Após este comentário, ambas as residentes que se tinham manifestado deram a entender que não queriam ir, por não ser necessário, e iniciando uma luta de almofadas…
Levantei-me e fui confirmar a quantidade de sacos do lixo e encontrei três, um deles bem cheio, que enchiam o carrinho.
Voltei para trás, disse o numero de sacos e que enchiam o carrinho e a resposta que tive da residente do gelo foi algo como “São poucos, fica para amanhã”. Eu respondi que ía na mesma e fui.
Peguei no carrinho de mão e segui sozinho pela estrada até ao lixo.
Senti uma tristeza a crescer dentro de mim, sem contar grandes histórias e pensando, já não sei se nesse momento se mais tarde, que podia ter dito que teria gosto em que alguém fosse comigo.
Creio que pensei que esta era a minha última semana na casa e que seria bom fazer estas atividades acompanhado, principalmente pela residente do gelo.
Percebi que estava a fazer algo para contribuir para todos, no sentido de todos receberem a recompensa associada à ida ao lixo (ainda que esta tarefa requeira só ser feita em 80% do total de vezes da semana para dar direito á recompensa).
Refleti sobre compromisso e responsabilidade…e mais tarde sobre a relação entre coerência e confiabilidade.
Quando regressei à casa a residente dos croissants perguntou-me se tinha ido ao lixo e disse que sim…
Passado instantes, já a formar-se a fila para o jantar, fez-me a mesma pergunta a residente do ginásio, fazendo uma expressão facial e dizendo algo que me deu a entender que ela não concordava com isso.
Servi-me de canja e dps da canja de um “pastel” de salmão, com espinafres, e que estava delicioso (lembro-me ainda de ter estado na cozinha dps da ida às compras e fazer uma tosta em simultâneo com a residente do gelo e de perguntar á residente do croissant se ela já tinha pensado abrir um restaurante…e ela referiu que se o caminho das traduções falhasse que uma hipotese seria a Escola francesa Cordon Bleu. Mais tarde passou-me pela cabeça que ela até podia conciliar as duas coisas, quando já estiver a trabalhar pelo menos).
Durante o jantar fui sentindo a minha tristeza, ficando maioritariamente em silêncio e observei-me a não querer olhar para a residente do gelo…ao mesmo tempo que refletia sobre como eu não gostava que deixassem de falar cmg e que tb não era isso que pretendia com ela, ainda que naquele momento não me apetecesse olhar ou falar com ela… Percebi que todos precisamos de tempo para nós.

Já estava sozinho na mesa e passa a residente do gelo na direção do corredor que dá acesso aos quartos e me diz boa noite, fazendo um gesto de adeus…Estava de boca cheia, pelo que não respondi oralmente, fazendo-o apenas com um gesto com a mão, lembrando-me que apesar da tristeza e de alguma espécie de ressentimento que estivesse a viver durante o jantar, já estava a passar e que aprecio mt a relação que tenho com ela.

Lavei, pus a desinfectar e arrumei a loiça e passava das 21h00 quando me fui sentar no sofá com o computador, continuando a minha leitura do doc. Da empresa social.

14h32 de dia 10 - rumo ao computador para continuar a minha pesquisa…