Dia 44 - 2023/08/10

Antes de ler este texto, lê antes Sobre a categoria Diario pessoal - científico?

07:06 de dia 11

Levantei-me pelas 6h51, depois de um sonho bem agitado onde só me recordo de estar num complexo de edificios em que a unica saida era por o que parecia ser uma entrada de garagem… Andava a esconder-me e a tentar escapar daquele espaço onde havia um grupo de tv militares…Lembro-me tb de estar a tentar saltar em modo escalada para um espaço interior e haver alguém a incentivar-me… Sonhos estranhos estes…

A única “prisão” que me vem agora à mente é a do meu contexto profissional…e observo que estou a 4 dias de sair da casa e que uma dos meus objetivos principais ainda não foi alcançado: tomar uma decisão sobre o que quero construir para mim profissionalmente.
Observo o contexto em que estou e como aprecio esta vivência comunitária: de haver tarefas atribuidas relacionadas com um “cuidar do espaço” em que estamos: (levar o lixo, lavar a loiça, lavar o wc, limpezas gerais, horta e manutenção, rega, cuidar da piscina); de haver momentos de convivio/lazer entre residentes e não só: um jogo coletivo noturno, uma conversa profunda, um jogo de ping-pong, das varias atividades fora do espaço que são terapêuticas e de certa forma de contacto/integração com a vida fora da comunidade: ginasio, equitação, visita cultural; das psicoterapias de grupo.

Ontem…Depois da reunião comunitária seguiram-se, pelas 10 as limpezas gerais… Desta vez auto-propus-me para outra parte da casa, ficando no corredor dos quartos com a mopa, a que se juntou a residente do gelo com a esfregona.

Pelas 11.30 foi a terapia de grupo, onde partilhei sobre a tristeza do dia anterior, já ultrapassada, e referente à ida ao lixo sozinho…e pude ouvir as perspetivas das outras pessoas presentes. No final partilhei tb sobre a questão dos ciumes que tinha levantado na sessão anterior, sem entrar em grandes detalhes especificos, e ao mesmo tempo tentando perceber a sua origem: identifiquei a necessidade de ser amado e a insegurança e fiz a pergunta: Como é que nos podemos amar a nós próprios para não viver relações de dependência emocional com os outros? E será possivel relacionarmo-nos com os outros sem ser para satisfazer alguma necessidade inconsciente nossa?
O que penso agora é que sim, é possivel e para mim importante estar em relação e não isolar-me numa qq gruta a meditar. Apenas quero é que as minhas relações sejam mais conscientes e a haver interdependência, que seja consciente para todas as partes envolvidas.
A residente do gelo apercebeu-se de alguma resistência minha a falar sobre o tema dos ciumes (acho que era este)… E mais tarde lançou o mote para uma conversa só entre nós dois. Fiquei contente com essa possibilidade. Seria uma oportunidade para libertar-me um pco destes dilemas internos em relação a ela.
Constatámos ainda que aquela seria a minha última terapia de grupo na casa.

Pelas 12.45 fomos almoçar, e pelas 14.00 mais ou menos saiu um grupo de residentes rumo a estremoz, pensando eu que a residente do gelo tb tinha ido.
Eu tinha escolhido ficar para ver se avançava nas minhas pesquisas…e estava sentado na sala a iniciar as mesmas, ao mesmo tempo que pensando quando iria ter a dita conversa com a residente do gelo.
Foi uma agradável surpresa quando a vi aparecer no exterior e de imediato me levantei e perguntei quando seria bom momento para conversar: aquele tornou-se então esse momento…e durante hora e meia, quiçá mais, conversámos…ela iniciou e eu continuei.
Partilhei o quanto partes internas de mim se debatiam em relação a ela…por um lado uma parte fantasiosa que fazia nascer alguns sentimentos e por outro uma parte algo critico/realista observando vários obstáculos a tal fantasia. Percebi rapidamente que ela não queria alimentar essa fantasia e isso sossegou a minha outra parte.
Tb partilhei dos meus ciumes em relação ao meu colega de quarto…e dps não elaborei mt…
Partilhámos perspetivas diferentes sobre o tema dos ciumes, eu mencionando que podia haver um lado positivo nestes: significando por um lado a pessoa gostar realmente de outra (ainda que com apego/alguma posse) e por outro representar que o ciume, pelo menos em mim, nasce depois de encontrar alguém a quem dou mto de mim (expressando o meu Ser de forma vulnerável) e que me dá atenção…e o ciume tem a ver com um sentir que a certo momento esse tipo de atenção que preciso é dada a outra pessoa…
Ela apresentou alguma discórdia, vendo que, para ela, o ciume nasce normalmente de uma comparação com outra pessoa que de certa forma admiramos e até invejamos por acharmos que tem algo que nós não temos.

Acho que as duas perspetivas são válidas e acontecem em paralelo. Fiquei a pensar sobre quais serão as caracteristicas que o meu colega de quarto tem e que eu admiro.
Acho que é a sua descontração com a vida, a capacidade de fazer outros rir.
A capacidade de jogar ping-pong com praticamente tds os residentes da casa (alguns que nao me passaria pela cabeça gostarem de jogar).
E dps há qq coisa na relação com a residente do gelo tb…mas isso tb esteja já mais relacionado com a minha necessidade de atenção.

Percebi que o que me despertou alguns sentimentos por ela foi de certa forma ela suprir as minhas necessidades de atenção, de reconhecimento/valorização pelo que digo, de “ser desafiado” e de intimidade/profundidade nas conversas e vivências entre nós.

E percebi que há outra pessoa que tb me ajudou a suprir estas mesmas necessidades e com quem desenvolvi uma relação amorosa, ainda que desde a minha vinda para a casa, estejamos mais afastados, comunicando menos…

Observei o quão fácil pode ser deteriorar relações devido a fantasias temporárias.

E surgiu a questão: Como é que se mantém a paixão viva/o amor vivo, numa relação?

Uma possibilidade será criar rituais periódicos em que as pessoas estão a sós uma com a outra…

Pelo meio da conversa ainda apareceu uma das técnicas que tinha acabado de voltar de férias e que quis vir cumprimentar a residente do gelo…Senti efetivamente um incómodo pela interrupção, e aguentei-o observando.

Mais tarde chegaram os residentes que tinham ido a estremoz e dps de alguma interação com eles acabei por ir comer uma tosta de queijo e dps fui-me sentar novamente no sofá nas minhas leituras do documento que parece não ter fim (pela sua dimensão, pelo ritmo a que o leio e pesquisas relacionadas que faço)…já passava das 17.45 quando me lembrei que era hora de ir dar de comer aos animais. Chamei a outra residente que era para ir comigo e assim fomos…Ela à frente para ir dar de comer às galinhas, indo eu c ela tb e dps eu só dar os comprimidos e biscoitos à cadela, bem como “atestar” a sua água e comida.

Voltei para o sofa, acho, as 19h00 reuniao comunitaria, as 19.45 jantar (uma sopa de tomate com pao e ovo escalfado e enchidos fatiados, deixando eu boa parte da sopa que tinha um sabor algo intenso para mim)

Dps de jantar havia a hipotese de ir ao supermercado para comprar desodorizante e outras pessoas irem cmg tb, mas eu tinha entretanto já encontrado um segundo desodorizante no meu estojo de higiene e quando a residente do gelo mostrou desinteresse em ir, a minha vontade de ir tb praticamente desapareceu e essa ideia esmoreceu com o fim de tarde.
Ainda surgiram outras propostas e eu, que não estava mto “responsivo”, acabei por ir buscar o computador e levá-lo para o exterior, continuando a minha leitura ao mesmo tempo que beneficiava do ar fresco e da companhia dos meus companheiros de casa.
Entretanto recebi um telefonema de uma amiga minha que estava a precisar de falar e de um pequeno emprestimo para fazer face a uma inesperada situação complicada na vida dela e decidi apoiá-la, sentindo alguma tristeza pelo que ela estava a passar.
Foi breve esse sentimento, depressa colmatado pela alegria e divertimento do jogo a que fui convidado a juntar-me: novamente o time’s up com os papeis na testa.

Ficámos a jogar até às 22.57.

E fui-me deitar, arriscando não colocar os tampões nos ouvidos.

8:30 - 1h24 min de escrita…vou-me lavar