O meu contexto normal é a minha vida em Lisboa. Portugal, um país desenvolvido, onde a maioria das pessoas têm o mínimo para sobreviver, e aquelas no meu círculo têm bem do que isso. Têm um conforto e segurança que para grande parte da população mundial é um sonho, algo praticamente impossível de alcançar.
Em que resulta este ‘desenvolvimento’? De acordo com a minha experiencia, resulta principalmente na desconexão entre as pessoas, que se fecham na sua bolha (que inclui família e alguns amigos) e perdem o prazer de ajudar um estranho, o prazer de dar sem receber nada em troca, apenas porque aquele é outro humano, porque é bom ver o outro feliz. Fecham-se nessa bolha e esquecem que a sua situação priviligiada é fundamentalmente o resultado do acaso, que podiam ter nascido noutro lado onde todos os dias comer é uma luta, onde uma doença simples resulta em morte, onde sair à rua e ir ao mercado é um risco imenso.
Ao invés, inventam preocupações e medos. Um medo infinito de que aquele estranho lhes roube o telemóvel, como a sua vida dependesse disso. A crença infundada de que a maioria das pessoas diferentes são más, ou perigosas, que a intenção de quase todos os outros ‘provavelmente é fazer mal’. Focam-se em luxos falsos, gastam dinheiro em coisas que não lhes trazem felicidade, e vivem acreditando que se não passarem a maioria das suas vidas a trabalhar (em algo que não as realiza minimamente) a sua vida será um fracasso e que serão infelizes.
É o contrário. É nas relações, genuínas, assim como no entendimento de que todo o prazer é relativo, que se pode ter mais aprendendo a estar bem com menos (e aí o luxo ocasional traz de facto felicidade), no perceber que a sociedade não é dona da verdade e que somos livres para a procurar à nossa maneira - é aí que está o sucesso de uma vida.
Ando a viajar há alguns meses de mochila às costas e com pouco dinheiro. É inequívoco: nos países mais pobres, menos ‘desenvolvidos’, é normal encontrar pessoas prontas a ajudar e, apesar de todos os seus (reais) problemas, geralmente mais sorridentes, sofrendo menos com stress e com depressões, encontrando felicidade nas coisas simples, e até, em muitos aspectos, mais conscientes da realidade.
Um mundo melhor conseguirá oferecer satisfazer em todos as necessidades básicas de comida, dormida e segurança, e ao mesmo tempo trará de volta a conexão com o outro que se tem perdido a olhos vistos, de forma aproximadamente proporcional ao pib, relativizará os medos, libertará as pessoas do trabalho escravo e, em geral, aproximá-las-á. Um mundo muito mais comunitário em que o dinheiro volte ao seu lugar, uma ferramenta para trocar algumas horas de trabalho pelo necessário à sobrevivência, e as deixe livres para criar e explorar à sua maneira.