Dia 1 - 28/06/2023

Antes de ler este texto é relevante ler antes: Sobre a categoria Diario pessoal - científico?.

Hoje acordei entre as 3.50 e 4 e levantei-me pelas 4.50, tendo-me deitado ontem entre as 22 e 22.30, perfazendo assim 6 horas de estar em repouso e não sei precisar quantas de sono.
Sinto o corpo mais re-energizado face ao dia de ontem.

Entretanto logo depois de me levantar, fiz 90 flexóes, em 3 séries de 30, 60 abdominais e uns 70 movimentos em que estou em pé com as pernas esticadas e baixo o corpo com os braços até ao chão. (Nota, faço exercício matinal há já vários meses, com eventuais dias de interrupção, como foi o de ontem)
Ao invés de meditar, que tenho praticado ao longo das últimas 3 semanas pelo menos 10 minutos por dia, experimentando ouvir umas frequências que se auto-afirmam “descalcificadoras da glândula pineal” (na prática não faço ideia do que isso significa…mas como não me incomodam e como me parece ser coisa positiva, decidi experimentar), escolhi vir para o computador escrever o meu diário - considerando também este um ato meditativo.
Comecei contudo com a vontade de enviar uns emails relacionados com a FESCOOP, o que estive a fazer na última hora (enviei na prática apenas um, tendo deixado o outro em modo draft, pois interessa-me cuidar da relação com os vários intervenientes)

Ontem, como acabei de escrever pelas 7.00 e queria ir e estar no escritório antes das 8.00, escolhi não tomar banho. Tomei contudo o peq. almoço, que terminei ainda antes das 7.30.
Comi um resto de cereais que tinha da marca Continente Equilibrio e título Farelo de Trigo - rico em fibras, ferro e vitaminas, e misturei com cereais da marca Alpen (que tem aveia passas e mais algumas coisas).
Depois preparei o que tinha a preparar (não considero relevante para este texto) para sair e fui de carro para o escritório, tomando a auto-estrada por ser mais rápido e cheguei lá perto das 7.40 se não estou em erro.
Já não me lembro bem de tudo o que fiz, sendo que de manhã tive em reuniões, sendo que a primeira estive apenas a observar/ouvir e a segunda estive a dar formação básica de Odoo a um cliente.
Tive também a “tentar” - entre distrações com internet e notificações de telemovel (que acho que além de pôr em modo ocupado preciso ou de o desligar ou de o colocar mais longe de mim enquanto trabalho) - fazer algum trabalho técnico para outro cliente.
Observo agora que não estava a tomar completa atenção à 1ª reunião em curso (onde não tinha um papel ativo), pois enquanto a reunião decorria tomei a decisão e avancei com um contacto à Casa de Alba (https://www.casadealba.net/), no sentido de questioná-los sobre a possibilidade de me incluirem na sua Comunidade Terapêutica em Saúde Mental no Alentejo e partilhando um pouco do meu contexto, bem como links para este fórum.

Após a primeira reunião, que terá terminado pouco antes das 11.00, disse ao meu colega-chefe que precisava de falar com ele, pois tinha dormido mal na noite anterior e precisávamos rever a conversa do dia anterior (o que aqui escrevo não é uma representação real da interação - que foi mais uma conversa onde houve interações minhas e dele - aqui apresento mais as conclusões).

Mostrei-me disponível e comprometido com a formação, que vai-não-vai, acabou por acontecer até perto das 11.40 ±, onde estive maioritariamente sozinho - online - com a pessoa do lado do cliente.

Entre as 11.40 e as 13.40 sei que troquei uns emails sei que troquei alguns emails ainda com algumas pessoas do meu círculo mais próximo, colocando-os a par desta minha decisão/vontade de integrar a Casa de Alba e de que ia conversar com o meu colega-chefe a propósito disso. Deram-me feedback que foi útil para a minha reflexão sobre o que eu iria dizer nessa dita conversa.

Tive também a conversa com o meu colega-chefe, de que gostei bastante, pois senti espaço para uma partilha sincera e autêntica, onde partilhei da minha decisão, por questões de cautela de saúde, e foram-me dadas duas possibilidades: ou baixa ou licença sem vencimento, apenas com o pedido para evitar surpresas e dar tempo para se fazer um plano.

Fiquei mesmo contente com esta abertura, e renovou-se a minha confiança em trabalhar nesta empresa…não tanto pela paixão pelo trabalho técnico a que ainda me convocam, mas pela qualidade da comunicação e relação com as pessoas, neste caso em particular, com o meu colega-chefe.

Acho que foi depois da conversa que disse que estava a ser desafiante para mim a parte técnica, sentindo alguns bloqueios, e após expôr isso, o meu colega-chefe trouxe-me clareza sobre o que eram as suas necessidades mais urgentes e até nem era aquilo em que eu estava a pôr o meu foco - que ele disse que até podia ser ele a fazer. Reorientei assim o meu foco e da parte da tarde estive a fazer um trabalho diferente… sem me livrar completamente das distrações internáuticas é certo, mas fui avançando e fiquei contente por isso.

Ao almoço comi um bulgur com camarão (comida pré-cozinhada do Continente), aquecido no micro-ondas e uma laranja.

Liguei também à mãe do meu filho e ela mostrou-se contente com a minha decisão, apoiando a mesma. Eu estava um pouco preocupado pelo tempo em que irei ficar longe do meu filho - não só por mim e por ele, mas também porque sei que para ela significa mais trabalho e uma carga maior. O que ela me disse tranquilizou-me nesse aspeto, havendo, caso eu venha mesmo a integrar a comunidade terapêutica, a possibilidade de eu ver o meu filho de alguma forma.

Em relação a esta comunidade tenho curiosidade sobre os métodos e dinâmicas aplicados e gostava muito, a correr bem, de contribuir para a divulgação e promoção dos mesmos.

Como processo, pediram-me a nota de liquidação do IRS e apresentaram-me um valor mensal de 3200 euros (ainda não sei se inclui ou não o IVA), com o qual concordei.

Confesso que este valor, sendo-me possível pagá-lo atualmente, me causa também algum desconforto, pois irá reduzir substancialmente a minha conta corrente e a minha almofada financeira, e como estou em período de reflexão profissional - tenho receio que depois seja mais dificil considerar algumas opções de vida que têm os seus atrativos (como montar um projeto próprio ou investir noutros projetos que considero relevantes para mim e para o bem-comum).

Por outro lado, sinto-me contente e agradecido à Vida e a todos os que para ela (a minha) contribuiram por poder pagá-lo - consciente que há muitas pessoas que não têm acesso a este tipo de serviço e do meu privilégio.

Penso em abrir espaço para que outras pessoas que queiram possam fazer o seu donativo e apoiar-me assim nesta jornada.
Por isso, se estás a ler este texto e me queres apoiar monetariamente neste processo, possas contactar-me diretamente nesse sentido. Eu agradeço e acolho.

Ontem saí pelas 16.45 do escritório para ir buscar o meu filho e levá-lo a casa da mãe.
Cheguei a casa já perto das 18.00, tendo tido tempo para lanchar - pão sem glúten da padaria Lêveda com mel de medronheiro e queijo, e ainda comer um ovo cozido.

Pelas 18.45 juntei-me, iniciando a reunião online do Espaço FESCOOP onde estive apenas eu e o presidente da mesa da AG. Foi uma reunião tranquila, onde partilhámos as nossas visões e perspetivas e possibilidades de futuro, que terminou pelas 19.15, a tempo de eu sair e ir com calma para a aula de biodanza, que, ainda que eu estive bem cansado e a fechar os olhos a maior parte do tempo durante a partilha inicial e com movimentos bem auto-regulados durante a sessão, me permitiu relaxar.

No caminho a pé de regresso a casa pude ainda falar com uma amiga de quem gosto muito.

Cheguei a casa e foi apenas lavar os dentes e ir para a cama, sendo que já passava das 22.

Hoje é dia de férias para mim, que pedi - e foi aceite - pois o infantário do meu filho está fechado e para estar com ele. Na realidade tinha pedido hoje e amanhã, mas depois de auscultar as necessidades do meu colega-chefe e a mãe do meu filho, além de a mim mesmo, percebi que não precisava dos dois dias.

Termino este texto de hoje de relatório diário agradecendo pela qualidade das relações que tenho na minha vida. Em baixo seguem-se partilhas…algumas num sentido de denúncia pública, sem já saber nomes de pessoas ou poder precisar.

Observo também em mim o medo de fazer estas partilhas em domínio público - medo que alguém se aproveite desta informação para algum fim mais obscuro. Observo, acolho e deixo-o ir, acreditando que por mais sombra e traumas que possam haver em quem lê este texto (e em mim), há também um lado que reconhece a bondade, a generosidade e a genuidade em todo o ser humano.
Este texto é público porque eu assim o decidi.

Artigo 19 (da declaração Universal dos Direitos Humanos)
Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

E felizmente vivo num país cuja maioria, através do seu Estado, subscreve os direitos humanos, (70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e 40 anos da adesão de Portugal à Convenção Europeia dos Direitos Humanos - XXI Governo - República Portuguesa) ainda que ainda haja espaço para melhoria.

Refiro-me em específico aos internamentos psiquiátricos públicos em Portugal, no concreto em Lisboa - reconhecendo ainda assim os avanços ao longo do tempo e o apoio e carinho pelos que lá trabalham e que também tive quando lá estive há 4 anos atrás.

Não me refiro à frieza que tive no atendimento no Hospital de S. José lá perto do dia 24 de Março de 2019, quando me deram uma injeção em que fiquei a dormir, para acordar um ou dois dias mais tardes preso a uma cama pela cintura, sem me poder levantar e sujeito ao desconforto que me lembro que foi uma pessoa (nao sei se assistente hospitalar se enfermeira) me dar comida à boca e tratar-me como se fosse uma criança - pelo menos é esta a memória que trago em mim - sujeita a desvios interpretativos da mesma. (poucos momentos antes disso - ou tv depois - já não sei precisar, lembro-me de estar sozinho, sentado numa cadeira de rodas num corredor do hospital e dizer que, num rasgo de consciência no meio da insanidade (em que boa parte e nos últimos momentos o que fiz foi cantar, pedindo até consentimento para o fazer em alguns momentos), queria um advogado. Palavras que não sei se alguém ouviu, tirando as paredes do corredor. Ficam no entanto agora registadas.

Também me lembro de ver escrito nas paredes do internamento do pavilhão do Júltio de Matos onde estive durante perto de 30 dias internado e sem já me lembrar quando pude sair à rua - tirando umas visitas acompanhadas a outro pavilhão para fazer análises e, mais no final, a possibilidade de caminhar ali perto acompanhado da familia -, os direitos dos utentes…mas não me lembro de me explicarem ou sequer informarem quando lá entrei desses mesmos direitos, onde entre eles está o direito da representatividade por um advogado, ou algo assim.

Além desta violência que é o internamento só pelo espaço em si - onde os únicos entretenimentos externos que nos são propostos além das visitas e da interação social, é uma TV e mesa de matraquilhos (e ainda bem que estas existem !)…o que vi fazerem a pelo menos uma outra pessoa - salta-me à memória em específico um enfermeiro a abrir a boca a uma utente para lhe enfiar os comprimidos boca a baixo, na sala de refeitórios - é para mim, uma violação clara dos direitos humanos:

Artigo 5
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

E pronto…assim usei a minha raiva em jeito de desabafo público recorrendo à memória…valendo o o que vale - consciente de que os retratos com base na memória sofrem degradação com o tempo e não só, em prol do conhecimento e informação coletiva, e no sentido de que se possa melhorar sempre os cuidados de saúde oferecidos - públicos ou não.

Obrigado pela sua/tua (à escolha) atenção e votos de um belo e prazeiroso dia.

São agora 8h07 da manhã aqui, nesta Sintra que me acolhe à data de 2023-06-28.